Já faz algum tempo que o partido chegou a
maioridade. Olhar para trás, o caminho percorrido nesses 35 anos, é motivo de
orgulho. No início queríamos, trabalhadores e trabalhadoras, ter voz. Quem não
se lembra de o “PT – Nossa vez: Nossa voz”? A partir desse pequeno grande
desafio fizemos esse país avançar na política, na economia, mas sobremaneira na
forma de fazer política.
Começamos do nosso jeito, com a nossa cara:
os núcleos de base por categoria ou temas; a formação como requisito; o aval
para filiação e por aí vai. O debate era acalorado. A efervescência de ideias
nutria nossa esperança, nossa vontade de lutar ainda mais. Daquele tempo, ainda
temos a militância do PT movida pela emoção, pela paixão e pela certeza de que
um mundo de igualdades é possível.
O Brasil e o mundo assistiram os
trabalhadores e trabalhadoras definirem sua própria pauta, travarem as lutas
necessárias para transformar sonhos em realidade. Nesse contexto avançamos ao
ponto de pautar a sociedade brasileira para enfrentar o debate sobre a
importância da mulher na política. Em 1988 ganhamos a eleição em algumas
cidades. Começa aí um novo ciclo de políticas públicas para as mulheres, onde
as questões específicas são olhadas a partir de suas particularidades, numa
perspectiva de inclusão e combate a todas as formas de violência, especialmente
à doméstica.
No Iº Congresso do PT, nos anos 90, as
mulheres aprovam a cota de participação de 30% nas instâncias partidárias. É a
primeira vez que se fala de cota afirmativa no Brasil. O processo de discussão
é intenso, mas a união de todas as mulheres de todas as tendências faz o PT dar
um passo enorme na política brasileira, com ousadia. A aprovação da cota foi
possível com o apoio de homens solidários a essa luta, como o Lula que defendeu
a proposta. Vitória de todos e todas.
Começa, então, um novo tempo. Num espaço
machista, masculino e exclusivo, a mudança foi aprendizado para toda militância
partidária. As mensagens eram cheias de signos, muitas vezes contraditórios em
relação a esse novo tempo.
O tempo passou. Elegemos o primeiro
presidente operário do Brasil. É criada a Secretaria de Políticas para as
Mulheres, SPM. O governo reconhece a importância dessas políticas para as
mulheres e o país. Mas ainda falta muito. A democracia é capenga de
representatividade feminina nos espaços políticos de poder e decisão.
Ousamos e elegemos a primeira mulher
presidenta. Contudo, ainda que represente 51% da população, as mulheres
continuam sendo um pequena minoria nos três poderes, em todas as suas esferas.
Esse país continua a dever para a população feminina. O PT também.
No 4° Congresso a militância do partido
aprovou a paridade, a cota geracional e a cota étnico-racial. Esta é a primeira
direção composta com base nas novas regras. Todavia, dirigentes imputam a essas
novas regras uma suposta crise da direção.
É necessário que, antes de atribuir
responsabilidades, reflitamos se o partido foi capaz de incorporar efetivamente
suas próprias decisões e acolher o novo com espírito democrático, ouvindo os novos
atores e atrizes e se abrindo para refletir sobre o que eles têm a oferecer.
Aprovamos uma revolução do ponto de vista da
nova estrutura, de um novo modelo de fazer política com capacidade de
influenciar os demais partidos e a própria legislação brasileira, mas,
lamentavelmente estamos optando por repetir os velhos padrões da política.
A sociedade brasileira, em sua grande
maioria, é machista, misógina e conservadora. O partido não é uma ilha.
Portanto, cabe a nós discutir, refletir e alterar a cultura interna.
A nossa capacidade de ousar é infinita e
transformadora. Vamos conversar sobre os desafios dessa nova estrutura do
partido, sem apontar o dedo. A responsabilidade é de cada um e cada uma.
Por uma nova linguagem de gênero no PT.
Por uma nova cultura política.
Viva o PT, que sempre ousou desafiar-se!
Laisy Moriére é secretária nacional de
Mulheres do PT